A Sigma Lithium já investiu 560 milhões de reais no Vale do Jequitinhonha e quer trazer o Brasil para o centro da discussão sobre carros elétricos
Fonte: Exame | Por: Karina Souza
Data: 06/11/2021 (Leia na íntegra)
A corrida mundial por carros elétricos é um fato. No Brasil, o etanol ajuda a contribuir para uma mobilidade mais sustentável — o desafio é grande, mas a existência dos carros flex ajuda a consolidar essa posição diante dos preços atuais das baterias — mas outras regiões do mundo ainda não podem contar com essa alternativa. Especialmente América do Norte e Ásia. De olho nas necessidades para além do Brasil, a Sigma Mineração investiu na exploração de lítio no Brasil e hoje conta com clientes de peso no mercado automotivo, como Volkswagen, GM, Stellantis, Porsche e Audi.
Até agora, a companhia de origem canadense listada na Nasdaq já investiu R$ 560 milhões em uma planta para exploração de lítio com fins de aprovação regulatória do material coletado no local, tarefa que a companhia cumpriu ao longo de três anos. Agora, com as aprovações garantidas, a companhia anunciou investimento total de R$ 2,3 bilhões para aumentar o tamanho da planta atual, previstos para serem aplicados no país até 2023.
Até hoje, a Sigma já encontrou mais de 30 milhões de toneladas (confirmadas) de lítio de alta pureza em dois dos nove principais sites deles. Esse pode ser considerado um diferencial da companhia diante do setor, uma vez que as plantas de lítio podem demorar, em média, de cinco a oito anos para atingir a capacidade completa de exploração — ou seja, conseguir extrair toneladas e mais toneladas em menos de cinco anos já é um grande avanço.
Por enquanto, o principal objetivo é, claro, garantir o atendimento a todos os clientes. Atualmente, a empresa já tem contratos firmados com Volkswagen, GM, Stellantis, Porsche e Audi. Além de LG e Mitsui.
“O volume da primeira planta não é algo de ‘laboratório’. Investimos, inicialmente, o suficiente para ter uma área igual à do maior produtor de lítio do Brasil, que vende o minério para fabricantes de lubrificantes. Agora, vamos investir mais ainda para aumentar a área do que já temos em 20 vezes e garantir a escala comercial”, diz Ana Cabral-Gardner, co-presidente executiva da Sigma Lithium, à EXAME.
Questionada a respeito de demanda local para a oferta que a Sigma produz, Ana afirma que a necessidade do Brasil para o minério, falando especificamente de baterias, é bastante reduzida, uma vez que o país é líder mundial na produção de biocombustíveis, com destaque para o etanol, que está presente em mais de 88% da frota local. Um comportamento bastante diferente do apresentado nos EUA, em que 91% dos veículos utilizam combustíveis “sujos”, como gasolina e diesel.
Para se diferenciar em um ambiente de alta competição, que inclui concorrentes gigantes como as mineradoras Albermarle, Jiangxi Ganfeng Lithium Co (chinesa que oferece o componente para a Tesla) e Tianqi Lithium, que controla mais de 46% da produção global de lítio, a Sigma aposta em um fator cada vez mais valorizado por empresas e, inclusive, motivo de discussões globais como a COP26: ESG.
Falando de forma mais clara, a companhia, que tem um valor de mercado de aproximadamente 814 milhões de dólares, segundo a cotação desta sexta-feira, 5, investiu em uma “mineração verde” do lítio na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Na prática, a planta não utiliza nenhum componente químico para a purificação de lítio, consegue reutilizar cerca de 90% da água consumida no local e utiliza um método de empilhamento de rejeitos a seco — evitando, assim, o uso de barragens como as da Samarco, que romperam em Mariana e em Brumadinho.
Nas palavras de Ana, o que a mineradora faz é atuar como uma “cleantech”. Apesar de não usar nada exatamente inédito na própria operação — já que boas práticas como as citadas acima já existiam — a companhia afirma ter aperfeiçoado o que já era considerado bom para obter os resultados que teve. Para isso, investiu em digitalização, que reduz a interferência manual em todo o processo, gerando mais eficiência e dependendo menos da função do “operador de planta”, ou operador de processo mineral, para garantir que o processo de extração ocorra dentro das especificações exigidas.